Morre Jacob Palis, matemático ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências e ex-diretor do Impa
07/05/2025
(Foto: Reprodução) O matemático morreu nesta quarta-feira (7), aos 85 anos. No início da década de 1970, ele fez contribuições importantes para a teoria das bifurcações e para criar bases de uma cultura científica cosmopolita no Brasil. Matemático Jacob Palis, ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências e ex-diretor do Impa
Divulgação/Impa
O ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e ex-diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), Jacob Palis, morreu aos 85 anos de idade, nesta quarta-feira (7), no Rio de Janeiro.
A morte foi confirmada em nota divulgada pelo IMPA no começo da tarde desta quarta. A causa da morte não foi divulgada.
O matemático era muito respeitado no meio acadêmico por uma história de contribuições para a ciência. Jacob Palis foi membro de dez Academias Nacionais de Ciências e doutor Honoris Causa de nove universidades no Brasil e no mundo. Ele era um dos principais cientistas e um dos mais premiados e respeitados matemáticos do país.
No início da década de 1970, ele fez contribuições importantes para a teoria das bifurcações e para criar bases de uma cultura científica cosmopolita no Brasil.
“Jacob é, simplesmente, um gigante da nossa ciência. A sua visão estratégica, a sua liderança e a sua contribuição científica, revolucionaram a face da matemática e da ciência praticadas no Brasil e na América Latina, influenciando instituições e inspirando jovens cujas vidas ele impactou profundamente e entre os quais eu tenho a honra de me incluir”, disse o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, que foi orientado por ele.
A presidente da ABC, Helena Nader, deu a notícia da morte de Jacob Palis durante um evento na instituição. Ela pediu um minuto de silencio aos participantes em homenagem o matemático.
"Jacob Palis vai fazer muita falta para o Brasil por tudo o que ele fez pela educação, pela ciência, pela tecnologia e pela democracia. O Jacob foi um batalhador da Constituição. O Jacob foi um batalhador pelo direito à educação, pelo direito à ciência aberta, ciência livre, do pensar livre. e a Academia Brasileira de Ciências está de luto", comentou Helena Nader.
"O que ele fez pela matemática no Brasil é sem palavras. O que eu aprendi com ele vai estar comigo para o resto da minha vida. Jacob sempre presente", completou Nader.
Jacob Palis deixa os filhos Rebeca, Carlos Emanuel e Laura e a esposa Suely Lima.
Perfil
Mineiro de Uberaba, Jacob chegou ao Rio de Janeiro aos 16 anos com o objetivo de cursar engenharia. Embora já tivesse decidido ser cientista e se dedicar à matemática, ele acreditava que era no curso de engenharia que a “boa matemática” era feita.
Palis foi aprovado em primeiro lugar na Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se formou em 1962. Ele deixou a universidade com o primeiro troféu da carreira, o título de Melhor Estudante de Graduação.
Na época, Palis já era um assíduo frequentador dos seminários do recém-criado IMPA nas tardes de sábado.
O matemático brasileiro também teve forte ligação com um dos maiores nomes da matemática mundial de todos os tempos, o professor Stephen Smale, que ganhou a medalha Fields, equivalente ao Nobel da matemática, em 1966.
Palis foi para Berkeley, no estado norte-americano da Califórnia, em 1964, com uma bolsa da Comissão Fullbright para garantir seu sustento. A parceria com Smale deu muito certo e originou uma amizade até o fim da vida. Palis assistiu ao orientador ganhar a prestigiosa medalha Fields enquanto ainda fazia o doutorado.
Após concluir o doutorado, ele passou mais um ano nos Estados Unidos como pesquisador na Brown University e professor-assistente na Universidade da Califórnia. O matemático retornou ao Brasil em 1968.
Atuação de destaque no Brasil
Jacob Palis foi um líder fundamental para a matemática e ciência brasileiras. Na década de 1970, contribuiu pioneiramente para a teoria das bifurcações e promoveu a internacionalização da ciência no Brasil, organizando o Simpósio Internacional de Sistemas Dinâmicos (1971) no IMPA, atraindo pesquisadores renomados e criando oportunidades para que jovens talentos desenvolvessem pesquisa de ponta no país.
Isso ajudou a consolidar o Brasil no Grupo 5 da União Matemática Internacional (IMU), entre os 12 países mais avançados em matemática.
Na década de 1980, Palis assumiu cargos internacionais e, como diretor-geral do IMPA (1993-2003), liderou sua transformação em Organização Social, garantindo autonomia para crescimento e internacionalização.
O matemático presidiu a IMU (1998) e a Academia Brasileira de Ciências (2007-2016), defendendo investimentos de 2% do PIB em ciência (meta ainda não alcançada, com apenas 1,2% atual). Seu legado inclui a modernização da pesquisa matemática brasileira e a defesa incansável por mais recursos para a ciência nacional.
Jacob Palis também foi responsável por fortalecer a colaboração matemática internacional ao fundar a União Matemática da América Latina e Caribe (UMALCA), em 1995. Mesmo ocupando cargos de gestão, manteve-se ativo como orientador e pesquisador, formando mais de 180 acadêmicos, incluindo o medalhista Fields Artur Avila – único premiado totalmente formado no mundo em desenvolvimento.
Além da mentoria, Palis também se dedicou à pesquisa, destacando-se por estudos sobre sistemas dinâmicos caóticos. Nos anos 1990, propôs uma visão unificadora da teoria, que ainda hoje orienta pesquisas na área e inspira gerações.
Sua trajetória foi reconhecida por dezenas de prêmios:
a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (1994);
o Prêmio Interamericano para Ciência (1995);
Oficial da Legião de Honra (2018);
Prêmio Trieste de Ciência (2006);
Prêmio Balzan em Matemática (2010).
Palis também era membro de dez Academias Nacionais de Ciências (entre as quais dos EUA, da França, da Rússia e da Europa) e doutor Honoris Causa de nove universidades no Brasil e no mundo, entre outras realizações.